Referências Simpáticas... algumas pitadas de nossas matrizes estético/ emocionais/ criativas/etc...


Identidade

A questão identitária é tema fundamental dos Estudos Culturais e seu conceito está diretamente relacionado ao de diferença, estabelecida pela marcação simbólica relativa a outras identidades, através da representação. Por representação entende-se a prática de criação de significação e os sistemas simbólicos por meio dos quais os significados são produzidos e assimilados. A representação atua simbolicamente para classificar o mundo e nossas relações no seu interior e estes significados que são produzidos desencadeiam na construção das identidades que adquirem sentidos por meio da linguagem e dos sistemas simbólicos pelas quais são representadas e atribuem significados às relações sociais. (Stuart Hall in WOODWARD, 2000, p.28).


Castells ressalta que a identidade é a fonte propulsora de significado e experiência de um povo, o processo de significação com base em um atributo cultural ou conjunto de atributos culturais inter-relacionados, que prevalecem sobre outras fontes de significado, no que diz respeito a atores sociais. Consoante o autor, a idéia de identidade anda em crise na contemporaneidade, assim, ele classifica a identidade da seguinte maneira: identidade legitimadora – introduzida pelas instituições dominantes da sociedade para expandir e racionalizar sua dominação em relação aos atores sociais; identidade de resistência – criada por atores sociais que se encontram em posições inferiorizadas, desvalorizadas e/ou estigmatizadas pelo viés da dominação, construindo focos de resistências e sobrevivência embasados em princípios diferentes dos que permeiam as instituições da sociedade ou mesmos opostos; e a identidade de projeto – quando os atores sociais utilizam-se de materiais culturais ao seu alcance para construir uma nova identidade capaz de redefinir sua posição na sociedade e ao fazê-lo buscar a transformação de toda a estrutura social. (CASTELLS, 1999, p.24).


Isto posto, vê-se que identidade não é algo fixo, determinado, estável que caracteriza, classifica e identifica uma pessoa ou grupo de pessoas. Como a identidade é, a um só tempo, uma construção pessoal, social e cultural, num determinado momento, com determinados interesses, torna-se fluida e permanentemente diversas e cambiantes, tanto nos contextos sociais nos quais elas são vividas, quanto nos sistemas simbólicos por meio dos quais pode-se dar sentido às próprias posições. Toda e qualquer identidade é construída a partir da história universal, da memória coletiva, das fantasias pessoais, dos objetos da cultura, dos mecanismos de poder etc... Tais materiais são processados pelos cidadãos, grupos sociais e sociedades que reorganizam seus significados nos embricamentos das tendências sociais e projetos culturais enraizados em sua estrutura social e sua visão de tempo e espaço. (CASTELLS, op.cit., p.23).


Entretanto, faz-se necessária a distinção entre identidade e papéis sociais. Os papéis são norteados por normas estruturadas pelas instituições e organizações da sociedade. A importância desses papéis no comportamento das pessoas depende de negociações e dos acordos entre os indivíduos e essas instituições e organizações. Já as identidades constituem fontes de significados para os próprios atores, por eles originadas e construídas por um processo de individuação. Além do que as identidades também podem ser construídas e formadas a partir de instituições dominantes, no entanto somente assumem tal condição se os atores sociais as internalizam, construindo seu significado. Identidades e papéis, às vezes, se confundem, porém identidades têm significados mais importantes do que papéis, por causa do processo de autoconstrução e individuação que envolve. Os papéis podem ser efêmeros, enquanto as identidades fazem parte da pessoa, ou seja, as identidades organizam significados e os papéis organizam funções sociais. (CASTELLS, op.cit. p.23).


As pessoas, de maneira geral, assumem suas posições de identidade e se amalgamam com elas. Investem nas posições e nos discursos que a identidade lhes oferecem e se posicionam como sujeitos/agentes sociais. Dessa forma, surgem os novos movimentos sociais, em que o pessoal é político. Esses movimentos surgiram a partir dos anos 60, voltando-se para o apagamento das fronteiras entre o pessoal e o político e para a política de identidade, que é marcada pelos questionamentos das lealdades políticas baseadas no conceito de classe social. Isso porque na sociedade moderna não há qualquer centro ou núcleo determinado, em vez disso, há uma pluralidade de centros e um dos centros deslocados foi o da classe social. Nesse sentido, pode-se afirmar, que não existe mais uma única força determinante e totalizante, tal como a classe social no paradigma marxista, que molde todas as relações sociais, mas o que se vê é uma multiplicidade de centros em muitos e diferentes lugares, onde novas identidades podem emergir e novos sujeitos ganharem novas formas de representação e de significados.


A televisão é a mídia mais acessível a grande parte da população que tem o maior poder de atuar na construção das identidades, em virtude de participar do cotidiano das pessoas e essa prática de construção das identidades acontece quando a televisão fornece imagens, personagens, situações, histórias, enfim, uma gama de possibilidades com as quais os consumidores e telespectadores, em geral, se identificam.


Os gêneros ficcionais são matrizes culturais universais recicladas e transformadas na cultura de massa, aparecem como elementos de constituição do imaginário contemporâneo e de construção de uma mitologia moderna: reposição arquetípica, aclimatação do padrão originário a uma nova ordem e instrumento de mediação de projeções e identificações na relação com o público receptor. (...) os gêneros se constituem no elo de ligação dos diferentes momentos de cadeia que une espaço da produção, anseio dos produtores culturais e desejos do público receptor. (BARBERO, 1997, p. 239).

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